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Karina Oliani no Pico da Neblina - O Ponto Mais Alto do Brasil

Karina Oliani no Pico da Neblina - O Ponto Mais Alto do Brasil

Aventura

Comparado com os 8.848 metros de altitude do Everest ou os 8.611 metros do K2, os 2.998 metros do Neblina podem não parecer muito.

Já subi a maior montanha da Terra, o Everest, duas vezes; já subi o K2, a montanha mais perigosa da Terra, mas nunca tinha conseguido subir a montanha mais alta do meu próprio país! 

Finalmente, esse ano, chegou a minha vez. Me senti muito honrada, e pude ter a chance de ir ao ponto mais alto do meu país ao integrar a equipe com os soldados mais preparados do 5º Pelotão Especial de Fronteira, para participar da expedição de troca de bandeira e patrulhamento de fronteira do Exército Brasileiro. 

Trata-se de uma região delicada, localizada em dentro de terras Yanomamis, e também no Parque Nacional Pico da Neblina, que se encontra fechada para o turismo há muitos anos.


Fora isso, a logística para chegar aos pés do Pico da Neblina já deixa qualquer um cansado só de imaginar: primeiro você tem que chegar a Manaus, que para mim, vindo desde São Paulo, foi um voo de 5 horas. De lá, temos um voo de 900 quilômetros ou 2 dias subindo o Rio Negro até São Gabriel da Cachoeira. Já estive na Amazônia diversas vezes, mas foi percorrendo o trecho até São Gabriel da Cachoeira que lembrei o quanto o Amazonas é grande! Só nesse trecho, a gente percorre a mesma distância entre Rio de Janeiro e Curitiba. É o mesmo que atravessar a Europa!

A paisagem da janela do avião é quase a mesma por horas. É planície de selva quase que interminável. De vez em quando você vê um ou outro rio de proporções imensas serpenteando a planície. Mas é chegando a São Gabriel da Cachoeira que a paisagem começa a mudar. 


Montanhas gigantes começam emergir no horizonte. No meio delas sai um grande maciço que é a Serra do Imeri que fica na fronteira com a Venezuela. O ponto mais alto da serra é o Pico da Neblina. A paisagem lá em cima é uma grande ilha de vegetação no meio da selva. Existem espécies de fauna e flora lá em cima que não existem em nenhum outro lugar da Terra.

Eu achava que São Gabriel da Cachoeira é longe. Mudei de idéia quando cheguei na pequena Maturacá, que ainda fica a 150 quilômetros de São Gabriel da Cachoeira. Aqui fica o 5º Pelotão Especial de Fronteira do exército brasileiro e é o ponto de partida da nossa expedição. Dali ainda teríamos 3 horas numa embarcação até realmente chegarmos ao começo da trilha.

Em oportunidades passadas fiz treinamentos com os soldados Guerra na Selva do CIGS e também com os Mergulhadores de Combate da Marinha (GRUMEC) e Comandos Anfíbios (COMANF), mas esse batalhão realmente está isolado! 

Ao sobrevoar a região avistei algumas comunidades indígenas e nesta região pude ver de perto o quanto o exército é de fato integrado com os indígenas. Existem pelo menos 23 etnias nesta região do Amazonas, sendo que 13 delas trabalham no exército, também patrulhando a nossa imensa fronteira com a Venezuela e Colômbia. 

Inclusive, a participação deles foi essencial para subir uma montanha desse porte sem mata completamente fechada.


Uma das coisas que mais me marcou na expedição ao Pico da Neblina, certamente foi a chuva! Chove 4 ou 5 vezes por dia aqui! Lidamos com chuva de todos os tipos. Como de costume, choveu todos os dias enquanto estive na região. Ao conversar com alguns soldados que iriam na missão de troca de bandeira comigo, fiquei sabendo que estava com sorte pois o tempo estava bom. Afinal o Pico não leva esse nome de “neblina” a toa. 

Uma vez que se chega no começo da trilha, temos 32 quilômetros de trilha até o cume e 3.000 metros de desnível. Com um terreno extremamente acidentado, de vegetação inundada com verdadeiros pântanos e muita lama, levamos 4 dias inteiros para subir o Pico da Neblina. 


A maior dificuldade do Pico da Neblina foi certamente a umidade. Para quem não está acostumado, ficar 4 dias com os pés completamente ensopados não é uma tarefa fácil. 

Nos 3 primeiros dias de selva não conseguimos nem ver o sol, muito menos a montanha. Montamos os nossos acampamentos em pequenas clareiras na mata, onde pelo menos cabiam as nossas barracas. Por se tratar de militares bem treinados, foram 4 dias bem intensos progredindo na mata por 9, 10 e 11 horas e ganhando altitude aos poucos. 

Quando chegamos no acampamento base, a cerca de 2.000 metros de altitude, vimos uma mudança na vegetação mais rasteira, cheia de bromélias.

Partimos pro ataque ao cume numa manhã, também chuvosa. Preparamos nosso equipamento e câmeras para seguir os militares que subiram horas antes. A trilha para o cume é bem íngreme, com trechos de 90 graus de rocha, onde há degraus metálicos instalados. Quando você olha de longe, mal dá para acreditar que o caminho segue aquelas pequenas plataformas na beira de um imenso penhasco.

Foram mais de 4 horas ganhando altitude aos poucos até finalmente percebermos que não tinha algo mais baixo que nós. Em breves lapsos de tempo, as nuvens abriam e dava para ver alguns penhascos lá embaixo. Checamos o altímetro e percebemos estar a 2.950 metros de altitude, a pouco mais de 40 metros do cume. O soldado Yanomami que estava abrindo o caminho nos disse que estávamos muito perto! Começou uma chuva torrencial nesse momento e já fazia bastante frio devido à altitude.

Faltando alguns metros para o cume, uma brecha entre duas nuvens revelou o comandante sorrindo e nos esperando lá em cima com mais 22 soldados. Ganhei ainda mais respeito e admiração pelo nosso exército. Eles defendem nossas fronteiras com muito suor e dedicam suas vidas a essa missão. 

Finalmente hasteamos a bandeira embaixo de uma tempestade. Mas foi emocionante! No meio da chuva, tiramos fotos e elogiamos uns ao outros por uma missão tão bem sucedida e cheia de companheirismo, trabalho em equipe e respeito ao próximo. 

A equipe teve que se dividir. Alguns desceram para o acampamento base e o nosso grupo decidiu acampar no cume para esperar uma oportunidade melhor para fotografar e filmar a vista de cima. 

Nas 3 primeiras horas nosso foco foi tentar secar as coisas e tirar o excesso de água para conseguir dormir nas barracas. E, na sequência comecei a fazer um mingau pra repor um pouco da energia que gastamos subindo, quando ouvi nosso cinegrafista gritando: “Karina, sai da barraca agora, você tem que ver isso!


Saí da barraca com muita felicidade e ansiedade para ver uma paisagem inexplicavelmente linda! Eram mares de montanhas até onde os meus olhos conseguiam enxergar. Montanhas que nem imagino o nome e provavelmente nem tem nome, emergiam no horizonte. Vales muito fundos me separavam delas. Paredes enormes e cachoeiras de meio quilômetro de altura apareciam em todos os lados! Fiquei sem palavras! Não sabíamos se fotografávamos a paisagem, preparava o drone pra fazer um voo épico ou se gastava os poucos minutos que restava de luz, tentando olhar tudo aquilo e assimilar os detalhes. 

Pouco antes de decolar o drone, pude ver um espelho alaranjado no horizonte, bem baixo na paisagem: tratava-se do Rio Negro, localizado a mais de 100 quilômetros de onde eu estava! 3 quilômetros de desnível nos separaram do principal rio da Bacia Amazônica!

Que honra ter tido a oportunidade de acompanhar esses heróis nessa missão tão dura e tão especial. Que orgulho ver o trabalho desses militares sendo feito com tanto afinco aqui. Quanta gratidão de ter tido a oportunidade de pisar aqui, no ponto mais alto do nosso Brasil!

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