Entre os dias 12-19 de dezembro aconteceu em Baixo Guandu, Espírito Santo, a Copa Brasil Sport- Guandu Open 2020. A condição climática surpreendeu e nos proporcionou sete dias incríveis de provas.
O campeonato de parapente é uma corrida, sendo que as provas são definidas a cada dia de acordo com a condição climática. Então, é estabelecida uma prova com várias coordenadas geográficas que devemos passar voando em cima e chegar no goal. Todos os pilotos decolam e tentam se posicionar da melhor forma até a hora do Start (quando começa a corrida). A pontuação é um pouco complexa, já que envolve pontos de liderança (quando você voa na frente do pelotão), pontos de distância (quem chega no goal) e pontos de tempo (quanto tempo gastamos para realizar o percurso). Mas, basicamente quem conseguir chegar no goal primeiro ganha. Nesse campeonato tivemos mais de 40 pilotos divididos em duas categorias, a Sport (parapentes de baixa performance) e a Open (parapentes de competição).
Sempre foi um sonho “matar uma prova” (quando chegamos em primeiro lugar no goal) no geral, ou seja, entre os homens. E também sempre foi um sonho subir no pódio da categoria Open, entre os homens.
Tive resultados muito bons durante a semana, sempre entre os 4 primeiros pilotos. Logo no primeiro dia cheguei em segundo lugar. Mas na prova 3 eu não consegui chegar no goal e pousei faltando cerca de 13km para o goal. No nosso esporte, temos que avaliar muitas informações ao mesmo tempo, por exemplo nosso planeio, velocidade e direção do vento, nuvens, onde estão as possíveis térmicas (massa de ar quente que usamos como combustível para subir, ganhar altura e poder fazer um planeio maior). E tudo isso ao mesmo tempo que estamos pilotando o parapente, muitas vezes em condições turbulentas. Então, não é uma tarefa fácil! Esse dia que pousei antes do goal, estávamos atravessando uma área com pousos restritos e preferi não me arriscar muito e optei por pousar em segurança. Em segurança, mas completamente sem sinal de celular ou internet. Nessas horas, meu Spot é extremamente importante para enviar minhas coordenadas geográficas para a pessoa que irá me buscar. E ainda gosto de usar o Spot X para enviar uma mensagem para o celular da pessoa para confirmar se recebeu minha localização e consigo receber essa resposta no meu Spot X. Simplesmente incrível e indispensável essa tecnologia.
Como não cheguei no goal nessa prova, não poderia mais errar se não o resultado estaria comprometido. Analisei meus erros, aprendi com eles e com isso fui só melhorando meus resultados. Então, na prova 5 que foi um percurso de 81km, cheguei em segundo lugar apenas 3 segundos atrás do primeiro colocado (Frank Brown). Na prova 6, empatei em segundo lugar com o Frank. E finalmente na última prova, eu consegui chegar primeiro no goal!
Eu voo com aproximadamente 45kg de equipamentos, então para decolar sem vento tenho muita dificuldade. Nesse dia estava sem vento nenhum, e eu não conseguia decolar. E a cada tentativa de decolagem, eu me cansava muito por causa do peso. Ficando cada vez mais perto da hora do Start, cheguei a pensar que perderia a prova por não conseguir decolar. Mas com ajuda de amigos, consegui decolar e subir para a base da nuvem em tempo hábil para o Start da prova. Foi um dia atípico, pois havia uma cobertura de nuvens e possibilidade de chuvas, então tive que ser estratégica para chegar no goal. Quando vi o goal sem ninguém, sabendo que eu era a primeira piloto de todos competidores chegando, me transbordei em alegria! Confesso que ganhar no geral, entre os homens, sempre foi meu objetivo, mesmo sabendo que seria difícil.
Como resultado após 7 provas, totalizando 335km voados na região de Baixo Guandu, consegui ser vice-campeã entre os homens e campeã na categoria feminino. Para mim ter sido vice-campeã e conseguido voar lado a lado com um ícone do voo livre foi indescritível. Frank Brown foi 12x campeão brasileiro, vice-campeão mundial, recordista mundial, entre outros inúmeros títulos numa história de 40 anos de voo livre! E ainda tive o prazer de dividir esse pódio com meu melhor amigo, Walter Oliveira (campeão paulista) que levou o terceiro lugar. Apesar de que não teve uma cerimônia, com um pódio de verdade e confraternização por causa da pandemia, esse momento vai ser pra sempre inesquecível para mim! Fico muito feliz de estar fazendo história no voo livre nacional e mostrando para as mulheres que somos capazes de tudo que acreditamos.