Os parques nacionais destacam-se de outras unidades de conservação por permitir o uso público, que é a visitação com recreação, interpretação ambiental, turismo, esporte, entre outros. Nem todos os parques têm um uso público implementado amplamente, mas todos permitem esse uso.
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É isso que fazemos todos os dias: uso público de parques nacionais, às vezes também estaduais e em propriedades privadas de conservação. Não somente para usar e nos divertir, mas para entender as relações, questões e oportunidades do parque, divulgar e permitir que seja criado um ciclo positivo de conservação.
Hoje temos 26,7 milhões de hectares, pouco mais de 3% do nosso território, como área de parques nacionais. Pode parecer muito, mas vale lembrar que o Brasil é o país com maior biodiversidade do mundo. Segundo a ONU, temos 15% a 20% da biodiversidade mundial. Além disso, temos muitas espécies não encontradas. Estima-se que levaríamos 2 mil anos para descobrir todas as espécies do Brasil.
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Grande parte das áreas dos parques nacionais não foi regularizada fundiariamente, os proprietários não foram indenizados pelas expropriações e, enquanto isso, seguem utilizando a terra para diversos fins. Muitos adotam as diretrizes de conservação, outros tantos mantêm suas lavouras, há também "florestas plantadas" (termo usado para cultivo de árvores como eucaliptos e pinos) e gado. É um ciclo perverso que não permite que o ICMBio atue efetivamente na área dos parques e faz com que a conservação não seja efetivamente colocada em prática.
Como se não bastasse, temos em média 1 funcionário para cada 11 mil hectares de parque nacional. É como se cada funcionário fosse responsável por mais de um quilômetro quadrado em termos de: prevenção e manejo de fogo, apoio à pesquisa científica, desenvolvimento e gestão de ecoturismo, fiscalização, e uso público.
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Este último muitas vezes acaba sendo preterido, pois os outros são mais urgentes e requerem maior atenção imediata. Afinal, não temos cultura de valorizar nossos parques nacionais e geramos pouca demanda, com isso há pouca pressão de melhoria. Mas, se bem implementado, é justamente o uso público que pode fazer que o parque ganhe força, reconhecimentos e aliados para as demais atividades.
Você se sensibiliza mais com uma área queimada próxima a uma cachoeira que você já visitou ou uma área da qual você nunca ouviu falar e onde não tem qualquer relação afetiva com o local ou suas pessoas?
O uso público, além de trazer benefícios diretos aos usuários em termos de saúde física e mental, traz benefícios indiretos para toda a sociedade e meio ambiente, gerando empregos, colocando mais pessoas em circulação nas trilhas e, com isso, afastando garimpeiros, caçadores, extrativistas, entre outros.
Os funcionários em tempo integral e temporários de parques nacionais são verdadeiros guerreiros que contam com apoio de uma rede de pessoas para realizar seu trabalho: guias, RPPNs, pesquisadores, entusiastas e ecoturistas.
Sim, ecoturistas ajudam nesse ciclo. Ao visitar uma unidade de conservação você se transforma: aprende de onde vem sua água, entende a relação entre a biodiversidade e sustentabilidade, o que significa uma queimada, o que significa uma árvore de pé, um cupinzeiro que acende com vaga-lumes, uma ave que se reproduz somente nesse local. E toda a relação que isso tem a ver conosco, seja na cidade ou no campo.
Ao aprender a relação da natureza, o ecoturista ajuda no ciclo de conservação, seja reduzindo o uso de recursos em suas casas ou atuando diretamente nos parques em monitoramento, voluntariado, combate ao fogo, entre tantos outros. O ecoturista também acaba advogando pelas unidades de conservação e atrai mais pessoas para ele.
No Brasil dois parques nacionais já foram extintos para construção de hidrelétricas nos anos 80: Sete Quedas (PR), coberto pelo lago da barragem de Itaipú, e Paulo Afonso (BA), para a construção da barragem de mesmo nome.
Em 2018 o STF decretou que áreas protegidas somente podem ser reduzidas através de lei, o que minimiza, mas não impede que isso ocorra novamente. São atitudes irreversíveis e até impensáveis, mas que nossa história tem mostrado que são possíveis de acontecer.
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Quanto mais usados os parques, menor a chance de isso se repetir no futuro. A proteção aos parques é vital para a sociedade urbana e rural, e pode ser feita através da recreação, do uso público. Nas suas próximas férias ou feriado, considere ir a uma unidade de conservação para fazer parte dessa transformação.
Todas as fotos deste post foram tiradas no Parque Nacional da Ilha Grande, que fica entre MS e PR ao longo do último trecho existente do Rio Paraná sem barragens. Esse parque foi criado em 1997 na área remanescente do extinto Parque Nacional das Sete Quedas.